sexta-feira, 8 de dezembro de 2017


Máscaras sociais – Todos temos uma

 Eu estou sendo verdadeiro, não estou fazendo tipo e nem jogando”! Essa é a expressão da moda em tempos de Reality Show! Vira e mexe algum aspirante a subcelebridade diz algo parecido. É claro que defender essa ideia é uma atitude pouco inteligente, mas não podemos exigir muito dos participantes dessa modalidade televisiva.  Nós vivemos representando papéis dentro da sociedade, e esse “ser verdadeiro” vai mudando conforme o contexto ou situação. Numa mesa de bar, em uma entrevista de emprego, ou em uma audiência importante com um juiz que julgará a tua causa, você seria a mesma pessoa, revelaria sua essência em todos esses momentos? Mostraria tudo que tem de pior e de melhor? Deixaria os defeitos aparecem juntamente com as qualidades?
Provavelmente não, porque é mais interessante mostrar o nosso melhor lado, ficar bem na fita aos olhos dos outros é sempre mais vantajoso! Estamos rodeados de convenções sociais que nos obrigam a sermos atores em ação, atuando sempre para convencermos o outro de nossas verdades. Verdades essas, que são múltiplas ou somente mentiras bem contadas. A mídia televisiva a todo o momento nos vende a sua verdade, usando para tanto, a força do seu arsenal poderoso capaz de construir outras realidades, de fabricar sonhos, ou simplesmente, manipular informações conforme seus interesses. Ao sentarmos em frente à TV ou navegarmos pela internet somos influenciados, seduzidos por imagens, sejam elas manipuladas ou não, é um bombardeio constante em nossas mentes.
 Quem poderia atestar com certeza que todo conteúdo informativo produzido pelas grandes mídias (revistas, jornais, televisão e a internet) foi elaborado por pessoas que estão preocupadas em mostrar a verdade dos fatos com imparcialidade? Imparcialidade ou isenção são palavras bonitinhas, mas em desuso há muito tempo nos meios de comunicação, embora caiba ainda na boca dos jornalistas e pseudojornalistas como uma forma de dá credibilidade a notícia. Nem mesmo a mídia em geral escapa de usar uma máscara quando bem lhe convém, escondendo sua real face, ou seu lado mais sombrio.
 As pessoas usam máscaras o tempo todo, seja por autodefesa, seja para preservar um segredo, ou por outro motivo alheio ao nosso conhecimento, mas cada uma tem a sua que mais lhe representa, aquela que a identifica, e se aproxima de sua essência. A vida em sociedade é um eterno baile de máscaras, podemos ser tanto anfitriões como convidados, mas não podemos esquecer quem somos debaixo dessas máscaras, os nossos valores mais essenciais que nos fazem diferentes um dos outros.

Reinaldo Souza em: 28 de Jun. 2014


Dolores nas mãos

A minha intimidade com Dolores vem de muitos anos, desde a infância e adolescência. Ela era uma presença Vip em momentos cruciais, era tenso vê-la tão ameaçadora diante de mim.  Se fosse uma triz, Dolores seria a triz principal, daquelas que surgem no último ato da peça para o grand finale.
De vez em quando eu e meus irmãos aprontávamos alguma coisa, e minha mãe (naquela época vivia de pavio curto) não gostava, ela apelava para “Dolores”. Impassível e cruel, Dolores tinha muita intimidade com meu corpo, desde as mãos, braços e pernas, até o meu traseiro. Esse, ficava mais prejudicado com a presença dela.  Minha mãe sentia uma mistura de dever cumprido e culpa ao ter que apelar para a nobre palmatória.
 Tinha os castigos do tipo: não ir à festa do amiguinho, não sair para brincar e ir dormir mais cedo. Havia também aqueles castigos mais brabos, como ajoelhar nos caroços de feijão ou milho até o joelho doer para aprender a não repetir o erro. Era a educação do meu tempo, onde não se questionava as ordens dos pais e se respeitava os mais velhos. Cada um sabia o seu papel dentro do seio familiar. Não era a Tv que educava os filhos e nem tão pouco as babás. Ouvi um “não” fazia parte do processo educacional. “Você não vai sair e ponto final!”, “Você quer, mas não vou te dá esse brinquedo!” ou “Não vai brincar porque você fez malcriação”. E ai daquele que insistisse ou saísse batendo os pés, “a madeira” gemia no lombo, como diria Voinha.
Naquele tempo a educação era formada pela tríade: limite, rigidez e obediência. É claro que havia amor nas relações entre pais e filhos, mas existia a preocupação de se passar valores e princípios essenciais na formação do caráter do indivíduo. Não estou aqui dizendo que se deva educar na base da palmatória ou outros castigos, mas que a autoridade dos pais se faça presente na relação com seus filhos. Pais não podem tratar os filhos como coleguinhas, nem tão pouco satisfazer todas as suas vontades dos mesmos. Não se pode dar o direito de escolha a um ser que não tem maturidade suficiente para discernir as consequências de seus atos.
É cada vez mais comum ver crianças e adolescentes decidirem a hora de comer, de dormir, o que comer e vestir, se apropriando do controle da Tv e dominando a rotina da família. A cena se repete em milhares de lares brasileiros com a permissividade dos progenitores. Sem contar a liberdade total de usar celular, baixando vídeos com conteúdo inadequado para faixa etária, ouvindo músicas com letras impróprias, picantes, que incentivam o consumo de bebidas, drogas e sexo, além de desvalorizar a figura da mulher chamando-a de cachorra, vadia, piranha e outros nomes “carinhosos”.
 Parece que hoje a educação se inverteu, os pais estão perdendo a autoridade e a capacidade de educar os filhos. A ausência dos responsáveis no lar para acompanhar com atenção o desenvolvimento da criança é provocada, muitas vezes, pela necessidade de trabalhar. Mais tempo no trabalho, menos tempo com os filhos. E para compensar essa ausência e tentar apagar a culpa por não estarem próximos aos filhos, os pais dão agrados de todos os tipos, desde presentes a viagens. E são condescendentes às atitudes erradas e falhas desses seres. Dizem frases do tipo: ‘Eles são crianças”, “A gente também já foi criança”, “O pai dele também era assim e mudou”, “É uma fase, vai passar” e etc.
Sem contar que muitas famílias estão deixando, cada vez mais, a tarefa de educar para a escola. Os professores além de darem conta da rotina escolar, se deparam com crianças e adolescentes mal-educados, respondões, mentirosos, desinteressados, agressivos e ousados. E são os docentes que tentam dar um limite a esses seres, dizendo não em vários momentos e não aceitando o péssimo comportamento dos alunos em sala de aula. Não que eles sejam “educadores” e isso seja uma função deles, como pregam alguns teóricos e a sociedade de modo geral. A tarefa de educar é de responsabilidade da família e não do professor. A ele cabe fazer a ponte entre o aluno e o conhecimento, colaborando para formação intelectual do discente.
Há ainda inúmeros docentes que sofrem agressões físicas e ameaças por parte dos alunos, seja em escola pública ou privada. E o mais chocante é constatar que alguns pais procuram vitimizar suas crias, amenizando a situação e colocando parte da responsabilidade no professor. Afinal, é mais fácil culpar o outro do que assumi o próprio erro, assumi a falha na educação dos filhos.
É bom lembrar que a vida de uma criança ou adolescente não é somente norteada por direitos, há deveres também. E esses, precisam ser expostos desde cedo, colocando no indivíduo o senso de responsabilidade.  

Reinaldo Souza em: 05 de Nov. 2017